sexta-feira, 19 de julho de 2013

A possibilidade de se rejeitar ou não a graça de Deus implica em salvação pelas obras?


Há algum tempo, li em um site calvinista radical em que se duvidava da possibilidade da salvação de um cristão arminiano/wesleyano.
Isto porque, para alguns calvinistas, a salvação, conforme exposta pelo arminianismo, seria pelas obras, e não somente pela graça de Deus.
A salvação somente pela graça, segundo os calvinistas, implica em uma obra soberana na vida do cristão, do começo ao fim, sem nenhuma participação humana neste processo. Daí, também ser chamada de monergista (ao contrário, a arminiana, que seria chamada de sinergista).
Mas será que é assim? Ser arminiano/wesleyano implica em acreditar que não se é justificado somente pela fé, salvo somente pela graça?
Pensemos.
Há muito erro em se achar que o arminianismo/wesleyano advoga que o ser humano tenha um livre arbítrio como alguém que está em uma posição de privilégio e tenha que escolher entre duas alternativas, tipo “a” ou “b”, ou entre “aceitar a Jesus ou não”.
Não é isso.
O que o arminianismo/wesleyano ensina é o seguinte.
O ser humano, assim como crêem os calvinistas, de fato está morto em delitos e em pecados. Por si só, não é capaz de fazer absolutamente nada para ser salvo. Entretanto, os arminianos/wesleyanos entendem que há um trabalho do Espírito Santo na vida de cada ser humano deste mundo que procura convence-los do pecado. Ou seja, há um prévio trabalhar de Deus na vida de cada um que pode resistir ou não a este agir divino. Parece difícil distinguir a primeira vista, mas ressalto: não se trata de escolher entre alternativa “a” ou “b” como alguém confortavelmente sentado em uma cadeira muda ou não de canal, ou alguém no supermercado que escolhe entre um produto “x” ou “y”, mas sim alguém que, pela graça de Deus, é jogado em uma situação em ser convencido do pecado pelo Espírito Santo e não resistir a Ele.
Ou seja, colocando novamente em miúdos. O homem natural está morto em delitos e em pecados e não pode entender as coisas de Deus. Daí, a necessidade do Espírito Santo convencer cada um de nós do pecado, da justiça e do juízo. E o Espírito Santo é dado ao mundo para fazer tal obra (João 16.8). A Escritura em algumas ocasiões afirma sobre esta possibilidade do ser humano resistir ao Espírito Santo, endurecendo o coração ao trabalhar de Deus (Atos 7.51; Hebreus 3.8). Caso o ser humano não resista a este agir de Deus, que se dá mediante o seu Espírito, que potencializa a pregação do evangelho para que tal coisa suceda, ocorrerá posteriormente a regeneração (o novo nascimento), que é uma obra exclusiva de Deus. É Deus quem opera tal situação. Este prévio agir de Deus foi chamado de graça preveniente por alguns.
Então, se falarmos em livre arbítrio humano nesta questão, quer se dizer somente que se trata da capacidade de resistir ou não ao trabalhar do Espírito Santo em nossas vidas. É um livre arbítrio bastante mitigado, enfim, que nem sei se pode ser chamado assim. Talvez o termo livre arbítrio possa mais confundir do que aclarar o que de fato queremos dizer.
Agora, alguns calvinistas vão dizer que este ato de não resistir é uma obra humana, que tira o mérito da graça na vida do cristão, dividindo este o mérito da salvação com Deus.
Particularmente, acho um exagero afirmar isso. Por exemplo, que mérito há em uma pessoa faminta que aceita um pedaço de pão para não morrer de fome? Ele foi salvo, neste caso, porque recebeu o pedaço de pão, mas ele não produziu o pão, ele não tinha pão, alguém deu gratuitamente o pão para ele. Não tem mérito nenhum em aceitar o pão para não morrer. Não tem mérito nenhum em não resistir em ser alimentado (e vejam que esta analogia ainda é pobre perto do que a teologia arminiana/wesleyana ensina acerca do recebimento da graça de Deus por parte do fiel). Assim também é com a salvação. Não há nenhum mérito em se receber a graça de Deus. Toda glória e toda a dádiva continua pertencendo a Deus. Por isso, um arminiano/wesleyano pode dizer que sua salvação é somente pela graça, por meio da fé, e que as obras não são meritórias. A graça preveniente coloca o ser em posição de abraçar ainda mais esta graça, dá um vislumbre da atuação de Deus na vida do pecador. Mas este, caso queira, pode permanecer nas trevas para que não seja manifesto que suas obras são más.
Obviamente, esta reflexão não resolve todos os embates que envolvem a velha discussão arminianismo x calvinismo, mas talvez esclareça um pouco no que se refere a questão da salvação pela graça mediante a fé, sob o ponto de vista arminiano/wesleyano.

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